Diagnóstico precoce da leucemia mieloide aguda já é possível
Cientistas da McMaster University (Canadá) e da Universidade de Bolonha (Itália) conduziram um estudo retrospectivo em amostras de sangue coletadas previamente em pacientes com síndromes mielodisplásicas (SMD), alguns dos quais chegaram a desenvolver leucemia mieloide aguda (LMA), tipo de leucemia muito agressivo e o mais comum em adultos. Cerca de 30% dos portadores de SMD desenvolvem a LMA, mas, de acordo com a análise dos genes, foi possível detectar quais deles iriam desenvolver a doença e quais não. A descoberta permite variações no tratamento de forma a evitar ou retardar sua agressividade. O estudo foi publicado no periódico Cancer Cell.
Incidência aumenta com o envelhecimento
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), quase 10 mil casos de LMA são diagnosticados por ano no Brasil, incluindo adultos e crianças, uma proporção de 5,20 novos casos a cada 100 mil homens e 4,24 a cada 100 mil mulheres, sendo ligeiramente mais comum no sexo masculino. Rara em pacientes abaixo dos 45 anos, ela mais acomete pessoas em torno dos 67 anos, ou seja, sua incidência aumenta com o envelhecimento.
A LMA é caracterizada pela rápida proliferação de células anormais e malignas, também conhecidas como blastos, que não chegam a amadurecer, deixando de desempenhar sua função e acabam se acumulando na medula óssea, interferindo na produção normal das demais células do sangue.
No entanto, hoje sabe-se que 30% das pessoas que a desenvolveram já eram portadoras de síndrome mielodisplásica, condição que, entre outros fatores, pode ter sido elevada pela presença anterior de doença mieloproliferativa ou por tratamentos de radioterapia ou quimioterapia. Ainda que neste último caso o prognóstico não costume ser favorável por ser relacionada a anomalias cromossômicas específicas, o diagnóstico precoce gera a possibilidade de diferentes abordagens que visem a melhoria da qualidade de vida do paciente.
Cientistas já preveem o próximo passo
No entanto, em 70% das vezes a LMA apresenta outras características, listadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como leucemia mieloide aguda com anormalidades genéticas, que implica na translocação entre os cromossomas 8 e 21, com inversão no 16 ou translocação entre os 15 e 17 e cujos pacientes têm alta taxa de remissão e melhor prognóstico; e LMA não caracterizada ou de origem ambígua.
Para os cientistas que conduziram o estudo, ainda que um grande passo tenha sido dado com a possibilidade de identificar quais os pacientes com SMD desenvolverão LMA, o próximo passo deve ser ainda mais ambicioso: usar essa capacidade de prever geneticamente o aparecimento para desenvolver drogas genéticas que evitem o total desenvolvimento da leucemia mieloide aguda.